O que você entende por Sexualidade?
A sexualidade é um fator importante que influencia a saúde física e mental em todas as suas dimensões, incluindo o biológico, psicológico, social, cultural, espiritual, religioso, político e legal. Assim, determinando que a sexualidade não se limita apenas a atividade sexual (sexo), mas inclui também todos os aspectos sociais.
Sexualidade é, assim, uma faceta do corpo, da existência, das conexões entre indivíduos e das dinâmicas sociais, capaz de promover o bem-estar, o crescimento e a autorrealização, sendo considerada como um elemento inerente à identidade de cada pessoa. Não deve ser entendida como um termo intercambiável com o conceito de sexo, já que se origina da interação de diversos fatores, incluindo aspectos biológicos, psicológicos e ambientais, moldando a experiência da pessoa e desempenhando um papel crucial no desenvolvimento humano. Ao ser uma parte essencial das relações afetivas, refere-se à forma como cada indivíduo se conecta consigo mesmo e com os outros, buscando afeto, o que, por sua vez, impacta a saúde física e mental, a qualidade de vida e o bem-estar. A intimidade deve ser encarada como um canal de comunicação e prazer, intrínseco a toda a humanidade, mediando a totalidade do ser e influenciando pensamentos, emoções, ações e interações.
Sexualidade se manifesta em contextos de relacionamentos sociais, onde a busca por conexão emocional e afetiva desempenha um papel fundamental. Também pode ser vista como uma expressão da individualidade, onde as pessoas exploram suas preferências, identidades e desejos para atingir uma integração mais completa de si mesmas.
Sexualidade e Oncologia
A convivência com uma doença grave como o câncer é uma ameaça ao destino que abre uma ferida no nosso sentimento de onipotência e imortalidade, fazendo-nos perder a ilusão de controle. Vamos nos deparar com os efeitos biológicos, psicossociais e espirituais da doença. Dos efeitos biológicos vamos tratar e das suas repercussões vamos cuidar.
No diagnóstico de uma doença crônica, os pacientes podem ser levados a defrontar-se com suas fragilidades, limitações e necessidades de cuidados, podendo passar a representar seus corpos como frágeis, doentes e debilitados.
O diagnóstico de câncer, bem como suas diferentes abordagens terapêuticas, afetam o bem-estar psicológico e a qualidade de vida do(a) paciente oncológico, de sua família e, especialmente, de sua(seu) parceira(o). Há evidências bem estabelecidas de que o câncer e os fatores físicos, psíquicos e sociais a ele associados podem resultar em prejuízos significativos à função sexual, ao estado emocional e ao relacionamento do casal.
Fatores físicos, como alterações anatômicas (amputação colorretal, peniana, testicular, mamária, estenose vaginal), alterações fisiológicas (desequilíbrio hormonal, incontinência urinária ou fecal, alteração de peso, fístulas, estomas) e os efeitos adversos do tratamento (náuseas, vômitos, diarreia, fadiga e alopecia) podem impedir o funcionamento sexual satisfatório, mesmo quando o desejo sexual estiver mantido. Apesar de os efeitos fisiológicos tenderem a diminuir com o tempo, o dano à função sexual pode persistir por anos em sobreviventes de vários tipos de câncer.
Problemas sexuais não se limitam aos portadores de cânceres genitais e de mama. Cânceres ósseo, de pele e de cabeça e pescoço resultam em alterações estéticas. Linfoma e câncer de pulmão são altamente debilitantes. Tais condições, associadas às sequelas do tratamento, podem causar autoimagem negativa e disforia, além de desconforto do(a) parceiro(a), o que leva à evitação da intimidade sexual.
O enfrentamento da doença é geralmente acompanhado de difícil adaptação psicológica e social, tanto do(a) paciente como de sua(seu) parceira(o). Ansiedade, depressão, temor à infertilidade, inquietação quanto à possibilidade de recidiva, incerteza sobre o futuro e sentimento de inadequação pessoal são manifestações emocionais comuns em pacientes com câncer.
Diante da ausência de intimidade sexual, os parceiros que enfrentam a doença podem se sentir isolados, ansiosos ou deprimidos, inadequados ou emocionalmente distantes. Por outro lado, a intimidade pode tornar a experiência do câncer mais suportável e ajudar no processo de recuperação. Dificuldades no relacionamento podem surgir após o diagnóstico de câncer e seu tratamento, caso o(a) paciente oncológico(a) e sua(seu) parceira(o) deixarem de comunicar sentimentos e não compartilharem a mesma necessidade de intimidade.
Amanda Costa – Psicóloga Oncológica
CRP MG 04/38574